A Covid e a impossibilidade de vivenciar o luto
Para Cláudia Barroso, psicanalista que há mais de 10 anos trata famílias que receberam diagnósticos médicos difíceis em seu programa Bem Me care, a impossibilidade de vivenciar o luto que vem junto com a gravidade de casos da Covid 19 é uma das faces mais cruéis da doença
“A Covid é uma doença ainda desconhecida, que tem desdobramentos diferentes em cada pessoa, que traz junto com o diagnóstico uma incerteza, um medo do futuro e isso, por si só, já é de um impacto grande nas famílias”. A frase é de Cláudia Barroso, psicanalista que lidera o Bem me Care, que trata famílias que receberam um diagnóstico difícil e precisam lidar com as mudanças que as doenças, síndromes ou situações envolvidas trazem para o novo contexto.
“Alguns aspectos do desenrolar dessa doença pervertem tudo o que conhecíamos até agora em relação a ter um ente adoecido na família. Nosso comportamento padrão é se colocar imediatamente no lugar daquele que ‘não está doente’, se diferenciando ‘daquele que está doente’ e, a partir desse posicionamento psíquico, eu posso destinar minha energia e meus cuidados ao adoecido”, explica Cláudia. Com a Covid, esse movimento é impedido: “eu reconheço o outro adoecido, mas, além de não poder cuidar dele, eu ainda preciso me preservar pois também não estou livre de adoecer”, essa dinâmica nunca existiu antes, lembra ela.
Cláudia lembra: “agora, eu sinto medo pelo outro mas sinto por mim também. E, na eventual morte daquele que estava doente, eu não consigo me entregar totalmente ao processo de luto, porque ainda estou lutando para preservar minha própria vida. O processo de luto é impedido pela ausência dos rituais, mas também porque o processo psíquico não está totalmente voltado para isso”.
“A Covid tem tirado das famílias o direito de vivenciar os rituais aos quais estamos acostumados, e isso apavora as pessoas e vai deixar sequelas, certamente”, explica Cláudia. Obter ajuda profissional nesse momento é extremamente importante. “No Bem me Care, auxiliamos as famílias a olharem para todos os aspectos emocionais envolvidos e ajudamos a pensar nas questões práticas que às vezes são esquecidas ou negligenciadas. Cada família tem sua particularidade, que precisa ser identificada e respeitada”, enfatiza a psicanalista. “É preciso que os familiares estejam emocionalmente mais fortes, para que os desdobramentos da doença, sejam eles quais forem, possam ser lidados de uma forma mais psiquicamente saudável", finaliza.
Sobre Cláudia Barroso
Cláudia Barroso é Psicóloga Clínica formada pela Fundação Mineira de Educação e Cultura – FUMEC, com especialização em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Psicoterapia de Casal e Família. É Terapeuta Sexual, formada pelo Isexp e Psicanalista formada através de processo particular. Além de fundadora e idealizadora do projeto Bem me Care, é autora do livro "O impacto da má noticia médica na família. Uma visão psicanalítica", tendo como co-autora Sonia Pires, além de gestora do Falhei & Disse - Reflexões Psicanalíticas com Entretenimento. Hoje atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias em seu consultório em São Paulo, atuando também de forma on-line.
Mais informações: https://www.bemme.care/ Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.