Com fim da La Ninã, o que devemos esperar do outono no Paraná?  

Com fim da La Ninã, o que devemos esperar do outono no Paraná?

Otacílio Lopes de Souza da Paz (*)

Um dos princípios fundamentais da climatologia é compreender como fenômenos climáticos de escala global influenciam as condições atmosféricas na escala local. Um exemplo marcante dessa relação foi observado no Paraná em 2020. Nesse ano, foi registrada a ocorrência do fenômeno La Niña que, basicamente, consiste em um esfriamento anormal das águas do oceano pacífico. Esse processo resultou em alterações globais nos padrões de ventos e chuvas, o que contribuiu para a seca histórica de 2020.

As imagens dos paredões expostos nas Cataratas do Iguaçu ganharam as manchetes nacionais. Além disso, houve um aumento significativo nas nossas contas de luz, devido à ativação de termelétricas, decorrente dos baixos níveis de água nos reservatórios das hidrelétricas. Ainda, observamos também os racionamentos de água em algumas cidades do Sul do Brasil.

Já durante um evento El Niño, que, basicamente, consiste no aquecimento anormal das águas do oceano pacífico, espera-se um aumento de eventos chuvosos em nosso Estado. De acordo com o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CEPTEC), braço climático do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o último evento de El Niño registrado foi entre 2015 e 2016, sendo entendido como de categoria “Forte”. Vale destacar que 2016 é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano mais quente da história.

Assim, este é o padrão geral que podemos observar de relação entre esses fenômenos climáticos globais e o regime de chuvas no Paraná. Durante um El Niño, há um aumento nas chuvas, enquanto nos eventos de La Niña, aumentam os eventos de secas. Quanto ao último evento observado, a La Niña de 2020, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) confirmou que ela terminou entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.

Assim, segundo o NOAA e o CEPTEC, entramos agora em condições de neutralidades nas temperaturas da superfície do mar do oceano pacífico. Na teoria, podemos observar as condições de chuvas dentro do esperado, seguindo as médias históricas de precipitação no Paraná. Em resumo, o regime de chuvas no Paraná é influenciado pelas massas de ar tropicais (úmidas e quentes), vindas da Amazônia, e massas de ar polares (frias e secas), vindas do polo sul. Esses sistemas atuam intercalando momentos mais úmidos e momentos mais secos.

No outono paranaense, espera-se um menor volume de chuvas em relação ao verão, devido aos domínios dessas massas de ar polares (frias e secas) nesse período. Assim, os eventos chuvosos podem ocorrer com intervalos de tempo maiores, deixando espaço para momentos de tempo seco, onde podemos observar os “veranicos” no meio da estação.

Ainda, cabe destacar que nesse estado de neutralidade da temperatura das águas do pacífico, podemos individualizar e observar alguns efeitos das mudanças climáticas associadas ao desmatamento. A cobertura vegetal na Amazônia tem um papel muito importante na umidade das massas de ar, que chegam no sul do Brasil. Com o desmatamento, essas taxas de umidade podem diminuir, intensificando esses momentos mais secos e permitindo que massas de ar frias adentrem no interior do Brasil, podendo desencadear ondas de frios em regiões atípicas de nosso país.

*Otacílio Lopes de Souza da Paz, é geógrafo e Doutor em Geografia. Professor da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional UNINTER