O brasileiro não foi feito para o isolamento

O brasileiro não foi feito para o isolamento

Calma, calma, ninguém está dizendo que é para sair por aí aglomerando. É para ficar em casa, sim, seguir as regras sanitárias e se cuidar porque ainda estamos em plena pandemia. O que esse texto vem falar é que o brasileiro não foi feito para o isolamento e, por mais que ele seja extremamente necessário, está mexendo profundamente com as famílias que recebem o diagnóstico da Covid, ou mesmo de ter positivado com o Coronavírus.

Cláudia Barroso, psicanalista, à frete do Bem Me Care há mais de 10 anos, lida diariamente com a recepção de diagnósticos difíceis, de doenças congênitas ou terminais, que abalam consideravelmente, muitas vezes de forma irreversível, a dinâmica familiar.

Podem participar das sessões familiares, amigos próximos, chefes e colegas de trabalho, pessoas que podem ser direta ou indiretamente afetadas pelo diagnóstico e que, em equilíbrio, podem lidar melhor com as mudanças que virão e até mesmo ajudar o próprio paciente na sua recuperação ou na forma de lidar com a doença ou a condição em que se encontram.

Mas e o que isso tem a ver com os brasileiros e o fato de ser muito difícil, para nós, lidarmos com o isolamento? Cláudia explica: “se conviver com uma doença desconhecida, incerta, que pode acontecer da forma mais leve até a mais devastadora, já é difícil, imagine fazer isso sem poder estar presente. Sem oferecer o que mais faz parte da nossa cultura: a presença”.

Para ela, uma das maiores dificuldades de quem enfrenta a Covid, especialmente em suas formas mais complexas, em que as pessoas precisam de internação ou até mesmo de uma UTI, é a distância. “Quando temos alguém doente na família, nosso primeiro movimento é ir até a pessoa, oferecer nossa ajuda, reunir a família, amigos, e dar apoio pessoalmente. A Covid nos tirou esse direto”, enfatiza Cláudia.

E qual a saída? “Bem, não dá para quebrar o isolamento, correr riscos ainda maiores, entrar em hospitais. Então, o jeito é conviver com ela da melhor forma possível, e é por isso que o Bem me Care existe: para dar aos familiares e a quem está sofrendo de fora da doença uma maneira de equilibrar as próprias emoções, acolher o que sente e entender seu papel na nova dinâmica familiar”, reafirma a psicanalista.

Cláudia lembra: “outra coisa que está acontecendo também é que a família está abalada pelo parente adoecido e, ao mesmo tempo, com medo de também adoecer. É a perversão do movimento emocional de cuidar de quem está doente, em casos de outras doenças: eu me esqueço para cuidar do outro. Na Covid, eu nem posso cuidar de quem está doente e nem posso esquecer de mim, para não me colocar em risco.

Por tudo isso, nós tivemos que inclusive modificar nossa forma de atendimento para famílias com diagnóstico de Covid, exatamente porque é uma doença nova, uma nova forma de lidar com o ser humano e um jeito totalmente diferente de buscar ajuda. “Nunca foi tão necessário rever nossa postura e entender que a vida de todos está em jogo”, finaliza ela.

Sobre Cláudia Barroso

Cláudia Barroso é Psicóloga Clínica formada pela Fundação Mineira de Educação e Cultura – FUMEC, com especialização em Psicoterapia Breve Psicanalítica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Psicoterapia de Casal e Família. É Terapeuta Sexual, formada pelo Isexp e Psicanalista formada através de processo particular. Além de fundadora e idealizadora do projeto Bem me Care, é autora do livro "O impacto da má noticia médica na família. Uma visão psicanalítica", tendo como co-autora Sonia Pires, além de gestora do Falhei & Disse - Reflexões Psicanalíticas com Entretenimento. Hoje atende crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias em seu consultório em São Paulo, atuando também de forma on-line.

Mais informações:https://www.bemme.care/ Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.